quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Festival Paredes de Coura 2012 - Review




































Este ano em Paredes de Coura celebraram-se os 20 anos de um festival que arrancou com a força de vontade de jovens da terra, que ainda hoje persistem em manter aquela que é a festa alternativa de Portugal. A edição deste ano contou com cinco dias de comemorações memoráveis entre os dias 13 e 17 de Agosto, com mais de 40 bandas a actuar.

O festival arrancou dia 13 com o habitual dia de recepção ao campista. Foi apresentado um palco nacional com as actuações dos nortenhos Salto, passando pelo pop psicadélico dos League. Enquanto B Fachada apresentava o seu último álbum Criôlo, em formato de one-man-synth-band, a chuva já fustigava os festivaleiros e as suas tendas, que se debatiam para ficar debaixo da cobertura do Palco Vodafone FM. A noite acabou com Quim Albergaria a animar os resistentes, ora com rock ou R&B.

O dia seguinte apresentou-se como uma verdadeira prova de força para os festivaleiros. Amanheceu com chuva e acabou com mais chuva, deixando o campismo e o recinto do festival completamente enlameados. Normalmente a chuva não detêm os festivaleiros, mas desta vez ganhou-nos. Quando o céu abriu por momentos, avançámos a caminho do recinto para ver o concerto dos Japandroids. Infelizmente não fomos muito longe e acabámos retidos cerca de 20 e tal minutos na barraca dos hambúrgueres, antes da ponte, à espera que o dilúvio acalmasse. Chegámos no fim de um concerto que pareceu ter sido fenomenal, mas que perdemos.

Já debaixo da cobertura do Palco Vodafone FM (que, garantimos, estava pior que sardinhas em lata) assistimos a um dos concertos mais experimentais do festival, com o pop espontâneo dos Tune-Yards.

Stephen Malkmus & The Jicks chegaram a remeter-nos para os Pavement por momentos, sendo a noite mais animada com a entrava dos Friends em palco, que levou o público ao delírio com a festa feita pela vocalista Samantha Urbani. Os PAUS deram um concerto fora de série, mas previsível, o que não é de espantar apenas com um EP e um LP lançados. O que não se estava à espera era dos momentos em que o Palco Vodafone FM se transformou por momentos no Romântica FM, enquanto se dedicava uma música de um Michel a uma Margarida. A noite acabou com o céu mais calmo, depois do diluvio que aconteceu durante toda a noite.

A manhã de dia 15 trouxe os últimos pingos de chuva e, finalmente tivemos céu aberto, o que proporcionou condições climatéricas perfeitas para o primeiro de três dias que eram considerados os principais. Começámos com Willis Earl Beal que, no Palco Vodafone FM, mostrou uma voz impressionante e com argumentos suficientes para ser considerada uma das melhores que passou por Coura neste ano.

De seguida dirigimo-nos ao Palco EDP e aí ficámos até ao fim dos concertos que começaram com os animados Kitty Daisy & Lewis. A banda formada pelos irmãos Durham, animou os palcos com a sua música muito marcada pela country. Seguiram-se os Midlake, com o rock bem calmo e pouco mexido, que me convidava a ir buscar uma cerveja e aproveitar a relva (ainda verdejante) daquele anfiteatro natural. Um dos concertos mais esperados da noite era o dos Temper Trap. A banda australiana veio a Paredes de Coura, depois de já ter marcado presença no mesmo festival há três anos, veio mostrar o indie rock do seu segundo álbum, intitulado com o nome do grupo, Temper Trap. Sem fazerem um grande concerto, conseguiram atingir os requisitos mínimos e saíram de palco a maior parte do público satisfeito.

O primeiro grande concerto da noite veio com os Sleigh Bells. O duo americano, que contou com o apoio de Jason Boyer como guitarrista, animou o público de uma forma que até então ainda não se tinha visto. A vocalista, Alexis Krauss, demonstrou uma energia inesgotável e conseguiu levar ao êxtase os milhares de espectadores que se encontravam naquele momento em frente ao palco. Os belgas dEUS entraram em cena logo a seguir e cumpriram o estatuto de cabeça de cartaz. A banda de Tom Barman e companhia mostrou porque continua a ser um dos grupos rock mais aclamados da cena actual, e não desiludiu os seus fãs. Os Digitalism foram os responsáveis por encerrar a noite no palco principal e não desiludiram. O duo germânico de música electrónica montou um cenário a remeter para o seu álbum de 2011, I Love You Dude, com um pano em forma de coração, onde eram projectadas imagens. Apesar de ter havido um decréscimo evidente de público entre dEUS e Digitalism, até pela diferença bastante acentuada no que toca aos estilos de música, os que ficaram para ver os últimos não deixaram de assistir a um grande concerto, com o forte envolvimento da moldura humana que ainda se encontrava no Palco EDP.

Com o fim dos concertos no Palco EDP deu-se uma migração geral até ao Palco Vodafone FM onde entrou em cena o peculiar DJ Orlando Higgibottom, mais conhecido como Totally Enormous Extinct Dinosaurs. O britânico deu um espectáculo razoável sem grandes momentos, mas que conseguiu por a maior parte dos festivaleiros a dançar. Para fechar a noite entrou em cena Kavinsky, de quem se esperava uma grande actuação. No entanto, parece que foi um pouco embalado pela actuação anterior. Apesar de ter feito um bom espectáculo, faltou um pouco de sal. O dj francês deu a entender que se sentia numa discoteca e, por isso mesmo, não proporcionou ao público os altos e baixos que se exigem neste tipo de festivais, mantendo o seu registo constante chegando mesmo, em alguns momentos, a ser maçador. Não obstante, conseguiu animar os últimos resistentes da noite e acabou por ser bastante satisfatório, finalizando o set com a aguardada “Night Call”.

O dia 16 nasceu solarengo e obrigou todos os campistas a sair cedo da tenda. As margens do Tabuão foram destino obrigatório, enchendo o relvado de toalhas e chapéus-de-sol, acompanhados de cerveja e música. Ao fim da tarde tornou-se inevitável que surgisse a ideia de um churrasco o que, consequentemente, atrasou a ida para o recinto dos concertos.

Quando chegámos ao Palco EDP já os The Whitest Boy Alive estavam a meio do concerto mas, daquilo que conseguimos ver, deram um bom espectáculo com Erlend Øye, dos Kings of Convenience a mostrar, mais uma vez, a sua paixão pelo Festival de Paredes de Coura. Seguiu-se a britânica Anna Calvi com um rock alternativo que deixou um pouco a desejar. Apesar de mostrar uma capacidade estupenda no que toca a lidar com a guitarra, a música dá pouco ênfase a este instrumento que podia ser uma mais-valia preciosa. Para fechar o Palco EDP entraram em cena os Kasabian, banda mítica de indie rock, com algumas influências electrónicas. Vindos das terras de sua majestade, subiram ao palco e mostraram sem qualquer dificuldade como se faz um bom concerto. Apostaram em temas como “Fire”, bem presente nas nossas rádios desde 2009, e rapidamente puseram o público a pular e a dançar ao som do típico rock britânico. Os 15 anos experiência permitiram à banda realizar um concerto bastante bom, com Tom Meighan em grande destaque.

O concerto da noite estava reservado para o palco After Hours Vodafone FM. Os Crystal Fighters entraram em palco com uma energia impressionante e não deixaram o público descansar nem um segundo durante todo o concerto. Sebastian Pringle pulou e dançou de ponta a ponta, contagiando a audiência com toda a sua alegria, a sensualidade de Mimi Borelli não deixou ninguém indiferente e os temas como “I Love London” ou “Plage” levaram ao rubro todos os festivaleiros que por ali andavam. O culminar de um concerto quase perfeito, com o tema “Xtatic Truth” fez com que a actuação dos britânicos/espanhóis Crystal Fighters fosse, sem dúvida, uma das melhores de todo o festival.

O dia 17 foi mais um dia de sol e mais um dia de atrasos. Quando chegámos ao recinte já os The Go! Team estavam a tocar e, verdade seja dita, deu para perceber que estavam a dar um concerto bastante animado. O anfiteatro natural de Paredes de Coura estava a encher como ainda não se tinha visto este ano. Depois dos britânicos, foi a vez de os portugueses entrarem em acção naquela que foi a noite mais portuguesa do Palco EDP. Os Dead Combo assumiram as hostes da noite com a sua aparência mística, muito marcada pelo característico chapéu de Tó Trips e os óculos de sol de Pedro Gonçalves. Rodeados de rosas, os dois portugueses mostraram a sua música experimental muito inspirada no fado, mas que mistura estilos como o rock, western, blues e outros.

Por fim, um dos concertos mais aguardados de todo o festival: Ornatos Violeta. Mais de dez anos após a separação, a banda voltava a um dos palcos que os viu nascer para o panorama da música nacional, Paredes de Coura. A expectativa era bastante e eram agora largos milhares de fãs que centravam os seus olhares atentos no Palco EDP. O concerto teve um início perfeito, do qual não se podia esperar mais do que se teve. A banda passou por temas emblemáticos como “Dia Mau”, “Ouvi Dizer” e “Capitão Romance”, levando os fãs ao delírio, enquanto acompanhavam a banda no coro uníssono. Era um cenário arrepiante, enquanto a nostalgia atingia todos os presentes, incluindo os membros da banda. Foi bom enquanto durou porque, talvez pela “ferrugem” de ficar 10 anos sem dar concertos, a banda perdeu-se a temas e mais temas. O concerto começou a tornar-se enfadonho e as músicas não paravam de aparecer, mesmo quando já não deviam. Os temas mais fortes e sonantes tinham de ser “divididos” ao longo do concerto mas não foi assim que aconteceu, tendo em conta que a banda estoirou os principais cartuxos na primeira metade do espectáculo. Não retira o mérito aos Ornatos Violeta que, se calhar por quererem um regresso demasiado perfeito, esforçaram-se demais. De qualquer das maneiras, foi um concerto bem conseguido, bom para fechar o Palco EDP este ano e, de certeza, memorável para a maior parte dos espectadores.

A última banda que vimos foram os Chromatics no Palco Vodafone FM e aqui juntaram-se um conjunto de factores para estragar o espectáculo: estava amolecido devido ao fim do concerto de Ornatos Violeta; estava a morrer devido aos muitos dias em que o Sol não me deixava dormir depois das 9:30 da manha; o álbum da banda é calmo e demasiado monótono; por último a vocalista, Ruth Radelet, não conseguiu apresentar argumentos para cativar o público, falando de forma telegráfica e num tom monocórdico. Assim, o concerto dos Chromatics passou um pouco ao lado do que é um bom concerto mas, tendo em conta o tipo de músicas presentes no ábum Kill For Love, seria espectável que tal acontecesse.


Neste festival houve bandas que definitivamente mostraram grande valor e, por isso mesmo, o Quiosque do Pedro aconselha vivamente os seus seguidores a assistirem aos seus concertos mal a oportunidade surja. Esse conjunto é: Japandroids; Friends; Willis Earl Beal; Sleigh Bells; dEUS; Digitalism; Kasabian; Dead Combo e Ornatos Violeta.

Para o ano há mais Tabuão, mais sol, mais chuva, mais sorrisos e mais Paredes de Coura. Até lá!

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